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domingo, 1 de julho de 2007

Os principais produtos da terra: a mulher e o homem

O povo de Cansanção se organizou, em sua maioria, em pequenas propriedades onde se praticava agricultura de subsistência e se criava alguns animais - principalmente cabras e ovelhas, bem adaptadas à grande variação de clima. Não houve ali qualquer atividade que possibilitasse a um ou outro uma acumulação importante de capital.
Os produtos da terra: sisal, couros de segunda qualidade, licuri, não encontraram - e não tinham como encontrar, mercados para se tornarem produtos que impulsionassem algum desenvolvimento "capitalista" no local.
Esse caso não é excessão, mas regra em uma parte importante deste país: economia rudimentar, ausência de Estado, população rural, altos índices de natalidade, altas taxas de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida... assim, a partir das décadas de 1930 e principalmente 1940, Cansanção passou a fazer parte das localidades que exportaram mão-de-obra barata, para a construção de nosso "Capitalismo tupiniquim".
Era em São Paulo que se ofereciam empregos, era pra São Paulo o rumo dos varões ao completarem dezoito anos!
Muitos são os relatos de pais que adulterarm os registros de seus filhos para que eles pudessem viajar antes para São Paulo.
Com minha família não foi diferente: durante a década de 1950 meu avô Lúcio, alcunhado de Branco, deixou Cansanção e esteve em São Paulo trabalhando na Construção Civil, enquanto a minha avó Nira (falecida recentemente, Deus a tenha em um bom lugar), sua namorada, o aguardava na roça, para casarem. Os ciclos se repetiram, e vêm se repetindo - foi assim com meu pai e minha mãe também. E o caso de minha família serve para ilustrar a história da grande maioria das famílias daquele lugar e de tantos outros com a estrutura social parecida: exportadora de gentes, para serem os braços que ergueram as catedrais, os edifícios, manipularam os tornos, e encheram as periferias das grandes cidades - em situações de vida precárias, mas menos precárias do que as anteriores.

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