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domingo, 1 de julho de 2007

Exportadora de gentes

Não foi nem é "privilégio" dos filhos de Cansanção, nem da Bahia, nem do Nordeste - essa música serve de parábola para a História de muita gente, da esmagadora maioria da Classe Trabalhadora: o camponês que virou operário, e não pode desfrutar do conjunto de "obras" que surgiram de suas mãos.


Cidadão
(Zé Geraldo)

Tá vendo aquele edifício moço,
ajudei a levantar.
Foi um tempo de aflição, era quatro condução,
duas pra ir , duas pra voltar.
Hoje depois dele pronto,
olho pra cima e fico tonto,
mais me chega um cidadão, e me diz desconfiado:
Tu tá ai admirado, ou tá querendo roubar?
Meu domingo está perdido, vou pra casa entristecido,
dá vontade de beber,
e pra aumentar o meu tédio
eu nem posso olhar pro prédio
que eu ajudei a fazer.

Tá vendo aquele colégio moço,
eu também trabalhei lá,
lá eu quase me arrebento,
pus a massa, fiz cimento, ajudei a rebocar.
Minha filha inocente , vem pra mim toda contente:
Pai vou me matricular,
Mas me chega um cidadão:
Criança de pé no chão,
aqui nao pode estudar.

Essa dor doeu mais forte,
por que que eu deixei o norte,
eu me pus a me dizer, la a seca castigava
mas do pouco que eu plantava, tinha direito a comer.

Tá vendo aquela igreja moço,
onde o padre diz amém.
Pus o sino e o badalo,
enchi minha mão de calo,
lá eu trabalhei também.
Lá sim valeu a pena
tem quermese tem novena
e o padre me deixa entrar,
foi la que Cristo me disse:
rapaz deixe de tolice, não se deixe amendrotar.
Fui eu que criou a terra, enchi o rio, fiz a serra ,
não deixei nada faltar,
Hoje o homem criou asas
e na maioria das casas
eu também não posso entrar.

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