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segunda-feira, 21 de maio de 2012

O doidinho Bibi



De manhã na praça da Cidade Pequena todos os dias aparecia nosso amigo Bibi, o doidinho, querido que só ele pelo povo todo, tomava café com leite e bolo de leite na padaria, recebia o seu desjejum pela graça de seus olhos, com o mesmo afeto que distribuía.
Vinha de longe dirigindo seu carro invisível, pilotando-o a partir de uma tampa circular de qualquer lata ordinária, seu volante. Os barulhos do carro ele fazia com os beiços estremecendo: vrum, vrum, vrum, ahnnnnn: freou. Girava a tampa de um lado a outro, manobrando seu belo carro de ré, e ainda puxava o freio-de-mão: creequeee..
Bom dia Bibi, bom dia, não dizia coisa com coisa, mas cativava com seu sorriso banguela e sua inocência de menino vista nos olhos entre couro duro e enrugado pelos sóis a fio.
Dia desses o irmão de Bibi foi para a Grande Cidade, resolveu levar Bibi para companhia, iam visitar um compadre velho. Depois de quase três dias de estrada que parecia não ter fim chegaram à rodoviária. Era gente! Bibi nunca vira tanta gente assim, nem escada que anda sozinha, nem aquele trem esquisito que fala sozinho e anda debaixo do chão, coisa de gente maluca, crê-em-Deus-pai!
No meio da Grande Cidade havia um enxame de gente, era lugar de sair de um e pegar outro trem desses esquisitos mesmo, ali Bibi viu passar um palhaço e resolveu segui-lo. Saiu da estação numa grande praça em frente a uma gigantesca catedral, o palhaço sumiu no meio da multidão. Por ali tinha era doido! Uma cidade de doidinhos. Falava com eles do seu jeito e eles respondiam com mais doidices.
Com sede por tantas novidades procurou pelo chão até que achou uma tampa de lata, arranjara seu carro perfeito para conhecer esse novo mundo.
Viu arranha-céus, viadutos, fome. Chegou a uma padaria como de costume, extraordinariamente não ganhou nadinha, mostrou seu sorriso banguela, levou um chute na anca seca, vai trabalhar, vagabundo!
Conheceu arranha-céus, viadutos, fome, chutes, tuberculose, cacetetes de gentis policiais no exercício de defesa de pessoas de bem sendo atormentadas por um doido qualquer, pedras inflamáveis que viravam fumaça e faziam sumir a fome e anestesiavam, já tinha uma saudade louca da Pequena Cidade, mas e o caminho?
Um dia desses foi levado a uma comunidade para ser tratado dessas doidices e da vagabundagem, isolado do mundo, de tudo, tivesse mais fé não estaria em situação tão degradante. Lá conheceu as grades, tomaram seu carro, deram-lhe pílulas mágicas, mas não sumia o vazio.
Cessado o contrato com o Estado, considerado irrecuperável, retornou às ruas, reencontrou seus amigos doidos, achou outro volante formidável, e saiu com seu carro a desbravar o mundo. Vrum, vrum, vrum.
Quis a sorte que um velho amigo da Cidade Pequena o tivesse visto pilotando seu veículo pelas ruas, entre molambos, magro como um cão sarnento, era gente? Só podia ser Bibi!
Foi velho amigo quem levou Bibi, o doidinho de volta para casa. Aliás, ouçam bem o barulho de seu carro possante, certamente é ele, nest´ante virará a esquina mostrando as gengivas. Olha meu carro? Olho Bibi, com muito gosto. Toma seu café e aproveita seu bolo, poucas das coisas doces que há nesse mundão tão amargo.

Um comentário:

marlucessol disse...

Vc tem o dom de fazer-nos viajar no tunel do tempo... é uma história triste, mas muito doce.