Páginas

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Mãe Justina se despede de Lelinho

Lelinho meu filho querido espere um pouco que vou buscar uma coisa pra você levar consigo essa blusa de veludo que está aqui é pra você não passar frio na viagem nem lá na Metrópole lá faz frio de doer as juntas e a mãe não quer que você sofra nunca quis eu amo você de um jeito que acho que não amei nenhum dos filhos que pari Deus-os-livre de ouvir uma conversa dessas ainda lembro do dia em que você nasceu sua mãe era uma menina havia poucos tempos que tinha se engraçado pelo seu pai era um ronco aqueles dois que eu e seu avô apressamos o casamento ainda bem que fizemos assim que não demorou um nada pra você chegar no mundo era magrelinho feio que nem um caburé de buraco e sua mãe não dava o peito direito por que queria ficar com os peitos duros feito moça eu ralhava com ela mas pisa não podia dar mais que já era mulher casada e mãe quando você não tinha nem um ano nasceu sua irmã essa era uma belezinha gorducha que só ela você ficava admirando ela e querendo brincar você queria um bem danado a ela mas na primeira disenteria que teve sua mãe não soube cuidar deu leite cru pra bichinha e terminou de matar ela foi mesmo sua mãe terminou de matar sua irmã e foi por isso que eu trouxe você pra se criar comigo quem já tinha criado seis filhos próprios contando com a irresponsável de sua mãe e outros tantos das raparigas que seu avô arrumou por aí bem podia criar mais um meus outros filhos já tinham se criado e caído no mundo minha casa estava vazia e você danadinho com esse seu jeito arteiro danado que só um gato do mato tomou o lugar na minha casa e no meu coração tão pequeno aprendeu a me chamar de mãe logo cedo por derradeiro aprendeu a conhecer sua mãe de sangue chegou aqui magrelo só bebia garapa na casa de sua mãe que não lhe preparava um mingau criei você com tudo de bom que tive ao meu alcance até fui muito mole com você às vezes devia ter sido mais severa quando você pulava o muro da escola pra ir jogar baralho com os moleques mas você com essa sua risadinha sem vergonha seu Lelinho sempre me deixou desarmada minha maior alegria foi ter podido te dar sua bicicleta nunca pude dar um brinquedo a meus filhos mas a você consegui dar e você ficava em riba dela o dia todinho até de noite mostrando os dentes por aí sabe que eu ficava muito alegre por dentro também de ver sua risada só não ria por que as amarguras da vida as outras coisas já secaram meus sorrisos e minhas lágrimas agora você está aí para sair de casa saindo do ninho pra ir pra cidade grande ir buscar seu destino fica o mesmo vazio na casa e na minha vida de antes de você chegar seu danado leve essa blusa de veludo pra você se esquentar e leve no seu coração as coisas que essa velha mãe Justina tentou ensinar Lelinho não se misture com pessoas ruins que você é inocente demais ameninado você sabe que quem anda com porcos farelo come siga sua consciência se algum amigo chamar você para fazer coisas erradas lembre de que ele não é seu amigo saia dele pegue seu rumo e não pule os muros nem da escola nem do trabalho é tempo de você ser um homem de responsabilidade vá com Deus meu filho que Ele livre você dos maus caminhos das más companhias e de todo tipo de sofrimento que Deus lhe abençoe volte aqui dê mais um abraço quero sentir seu abraço filho que sua mãe velha não sabe se vê você ainda quem sabe no dia em que você voltar eu já não esteja mais viva quem sabe abraço quente demorado apertado apartado.

Nenhum comentário: