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Dia desses passou um caminhão, parece que o
caminhoneiro não estava muito são, tomou água que passarinho não bebe e se foi em
zigue-zagues pela pista. Deixou cair uma criatura especial deveras:
bicuda, penas brancas sujas com o piche do asfalto e a poeira da estrada, uma
galinha ordinária. Painho a recolheu na pista e a trouxe para casa.
Ela ia ser minha e das minhas irmãs para modo de dividirmos as obrigações. Uma galinha tão cheia de caprichos não podia ficar sem nome, logo foi batizada, chamou-se Joice.
Ela ia ser minha e das minhas irmãs para modo de dividirmos as obrigações. Uma galinha tão cheia de caprichos não podia ficar sem nome, logo foi batizada, chamou-se Joice.
Joice era desconfiada de
nossas intenções de meninos e corria longe-longe quando tentávamos nos
aproximar, olhava de banda se esgueirando e se picava no mundo.
Uma hora achamos milho
de pipoca: ti,ti,ti,ti,ti. Toma Joice, esfaimada ela foi chegando pertinho, bem
pertinho, conseguimos capturá-la e começaram as nossas tarefas de melhorar seu
aspecto tão rudimentar: fizemos um laço e colocamos no pé, para um
pé-de-galinha até que era um laço maneiro, vermelho, feito de uma fita que a
Maninha guardava. Agora a embonecada-galinha com fita e tudo não ficava
combinando com as penas tão manchadas, sujismunda, com cheiro de piche. Vixe.
Ajeitamos um balde
cheinho d’água e adicionamos xampu de primeira qualidade, mexemos e remexemos,
os círculos concêntricos formaram um redemoinho no centro do balde, a espuma
subia cheirosa toda enquanto sumiam os reflexos de nossas caras ladinas.
Mergulhamos a Joice,
então tão fedorenta. Ela tentou escapar. Não deixamos! Ela era uma porquinha
mesmo, pensamos que ela não gostava de tomar banho, tinha que lavar aqueles
dedões cumpridos e tão imundos, se a mãe dela visse tão suja ia brigar com ela,
de certo.
Joice pia, bate as asas,
pula, se debate, afunda, borbulha, borbulha muito, a gente esfrega com uma
escovinha. Acabou o banho. Ela ficou estatelada no quintal e não queria
brincar. Tentamos levantar a asinha dela, estava mole, ela fazia um barulho
estranho, parou de fazer barulho. Hein-hein, ela parou de respirar e nem abria
mais os olhos. Sopramos forte no seu bico que nem na televisão faziam quando
gente se afogava e apertamos bem forte o peito dela, mas ela não levantou nunca
mais. Não mais comeu milho, nem ciscou terreiro, Joice era finada.
Se ela morreu do banho
que demos então eramos assassinos daquela criatura inocente, pegamos um na mão
do outro, fizemos uma rodinha de três crianças e choramos de remorsos profundos
enquanto trocávamos olhares de cumplicidade eterna.
Não adiantava ficar
chorando, isso não ia fazer nada por ela, só podíamos rezar para ela ter um bom
descanso.
Logo pôs-se o sol. Providenciamos
um pedacinho de vela, acendemos a um palmo e meio do cadáver da galinha,
iluminava a cara já sem viço da penuda e as nossas consternadas. Nos ajoelhamos
em círculo, rezamos do fundo de nossos corações.
Joicinha querida,
obrigado por nos ter feito tão felizes mesmo que por pouco tempo e que você .
ache um bom lugar no céu das galinhas onde não haverá raposas nem meninos
malvados como nós, amém.
2 comentários:
Olá.
Foi um prazer fazer contato com seus escritos, por saber que você foi um vizinho meu. Sou de Monte Santo e, como você, tenho minhas raízes fincadas no sertão. Também escrevo. Se possível dê uma olhada no meu perfil no facebook, onde posto muito das minhas poesia, ou no meu blog, que não tenho alimentado, mas que ainda existe. ivannsanttana.blogspot.com
Grande abraço.
IVAN SANTTANA
Obrigado pela visita, Ivan, vou visitar o seu blog com certeza. O sertão é o mundo (G.R.), abraço
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