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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O ocaso da galinha sujinha

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Dia desses passou um caminhão, parece que o caminhoneiro não estava muito são, tomou água que passarinho não bebe e se foi em zigue-zagues pela pista. Deixou cair uma criatura especial deveras: bicuda, penas brancas sujas com o piche do asfalto e a poeira da estrada, uma galinha ordinária. Painho a recolheu na pista e a trouxe para casa.
Ela ia ser minha e das minhas irmãs para modo de dividirmos as obrigações. Uma galinha tão cheia de caprichos não podia ficar sem nome, logo foi batizada, chamou-se Joice.
Joice era desconfiada de nossas intenções de meninos e corria longe-longe quando tentávamos nos aproximar, olhava de banda se esgueirando e se picava no mundo.
Uma hora achamos milho de pipoca: ti,ti,ti,ti,ti. Toma Joice, esfaimada ela foi chegando pertinho, bem pertinho, conseguimos capturá-la e começaram as nossas tarefas de melhorar seu aspecto tão rudimentar: fizemos um laço e colocamos no pé, para um pé-de-galinha até que era um laço maneiro, vermelho, feito de uma fita que a Maninha guardava. Agora a embonecada-galinha com fita e tudo não ficava combinando com as penas tão manchadas, sujismunda, com cheiro de piche. Vixe.
Ajeitamos um balde cheinho d’água e adicionamos xampu de primeira qualidade, mexemos e remexemos, os círculos concêntricos formaram um redemoinho no centro do balde, a espuma subia cheirosa toda enquanto sumiam os reflexos de nossas caras ladinas.
Mergulhamos a Joice, então tão fedorenta. Ela tentou escapar. Não deixamos! Ela era uma porquinha mesmo, pensamos que ela não gostava de tomar banho, tinha que lavar aqueles dedões cumpridos e tão imundos, se a mãe dela visse tão suja ia brigar com ela, de certo.
Joice pia, bate as asas, pula, se debate, afunda, borbulha, borbulha muito, a gente esfrega com uma escovinha. Acabou o banho. Ela ficou estatelada no quintal e não queria brincar. Tentamos levantar a asinha dela, estava mole, ela fazia um barulho estranho, parou de fazer barulho. Hein-hein, ela parou de respirar e nem abria mais os olhos. Sopramos forte no seu bico que nem na televisão faziam quando gente se afogava e apertamos bem forte o peito dela, mas ela não levantou nunca mais. Não mais comeu milho, nem ciscou terreiro, Joice era finada.
Se ela morreu do banho que demos então eramos assassinos daquela criatura inocente, pegamos um na mão do outro, fizemos uma rodinha de três crianças e choramos de remorsos profundos enquanto trocávamos olhares de cumplicidade eterna.
Não adiantava ficar chorando, isso não ia fazer nada por ela, só podíamos rezar para ela ter um bom descanso.
Logo pôs-se o sol. Providenciamos um pedacinho de vela, acendemos a um palmo e meio do cadáver da galinha, iluminava a cara já sem viço da penuda e as nossas consternadas. Nos ajoelhamos em círculo, rezamos do fundo de nossos corações.
            Joicinha querida, obrigado por nos ter feito tão felizes mesmo que por pouco tempo e que você .
ache um bom lugar no céu das galinhas onde não haverá raposas nem meninos malvados como nós, amém.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Pedro C´a Pistola

Essa anedota não é minha, quem me contou foi o meu avô Branco, querido, eu só fiz transcrever. Quem disser que é mentira leva um tiro do Pedro C´a Pistola!



Pedro era um caboclo rude com ventas para amigos poucos. Andava pelos povoados atentando os fi-de-Deus com uma pistola velha enferrujada. De tanto apresentar sua companheira ficou alcunhado de Pedro C’a Pistola.
Uma vez se juntou com Zé Chupeta, um companheiro encapetado, foram fazer as maldades do Cabrunco num forró nas cercanias.
- Oi só: eu vou entrar lá e atirar no lampião, quando ficar escuro o povo vai se assombrar e sair correndo pela porta, daí você pega esse porrete e acerta na cabeça de quem sair.
Sanfoneiro puxando o fole com seus foromfomfons, as chinelas se arrastando no terreiro. Pou. Tiro pra cima. Errou o lampião. O povo descobriu Pedro C’a Pistola. Armaria! Foram pra cima dele com pedra e pau nas mãos. Quem primeiro saiu esbaforido foi Pedro.
- É eu cumpadi!
Poft.
Zé Chupeta não viu nem ouviu e desceu o porrete na cabeça de Pedro.
- É por isso que ele está aí estirado?
E não era mesmo? Que Deus o tenha ou o Diabo que o carregue!