Tio Dito não deixava de ser presepeiro, bebia cachaça e ficava xarope. Toda feira tinha uma novidade. Dia desses comeu na barraca de uma mulher, repetiu, quando foi cobrado inventou que era vereador e que não ia pagar nada, levantou e deixou a coitada no prejuízo. Outra vez levou um revólver de brinquedo, comeu um sarapatel na hora de acertar a conta apresentou o brinquedo engatilhado: o pagamento é com isto!
- Não me mate pelo amor de Deus, fica de graça para o senhor.
- Brigado, dessa vez passa.
Com a barriga farta foi beber no bar do Cigano, e esse povo sabe ser brabo quando mexem com um deles. Bebeu uma, duas, três branquinhas. Reapresentou a arma: Vou pagar mas é com isto! O Cigano pegou uma arma de vera e botou na testa dele.
- Você quer morrer agora ou mais tarde?
Dito dá uma risada mostra as gengivas carecas - estou brincando meu amigo, toma aqui seu pagamento, nóis semo amigo há tantos tempos, escapou bufando.
Na derradeira, chegou na barraca do filho do Pernambucano, pegou um chapéu, botou na cabeça e foi saindo como quem não queria nada. O cabra ficou azedo puxou ele pelo pescoço. Tomou o chapéu. Dito ainda disse uns desaforos que ninguém que testemunhou teve coragem de relatar. Parece que chamou a mãe do homem de cachorra. Sei que o homem comeu ele no sopapo.
Na hora da surra o primo Ivaldo ia passando tomou as dores de nosso tio. Podia não valer nada, mas quem quer ver o seu sangue apanhando na praça? Que está acontecendo aqui? Antes de ser respondido moeu o cabra no murro, foi surra que saiu suado, puxou Tio Dito pelos colarinhos, deixou ele em casa para modo de não criar mais confusão.
Antes do sol cair a cidade já estava cheia que Ivaldo era um homem morto. A família dos Pernambucos já tinha se armado para vingar a surra e a humilhação sofrida. Cabra não apanha na cara.
Antes da peixeira entrar em seu bucho Ivaldo se escondeu na roça. Depois se picou aqui pra casa e se acoitou até dia desses. Filhos pra criar... foi tomar as dores de Tio Dito! Mas o filho do Pernambucano estava errado também ao bater num coitado desses.
Todo mundo sabia que nossa raça estava jurada. Se não pegassem o primo Ivaldo ia começar a guerra dos Pernembucos com nossa gente, mas no meio dos nossos não tem mais feroz do que Zenildo.
Zenildo foi sozinho na casa do velho Pernambucano, tirou a cinta e deixou as armas no batente entrou sem nadinha. Não é um cabra mesmo?!
- Licença seu Pernambucano, a bença.
- Deus lhe abençoe.
- Eu vim tratar com o senhor porque seu fio jurou de matar meu primo.
Vão chegando os filhos todos do Pernambucano, armados: um com peixeira, outro com carabina, outro com uma cartucheira. Zenildo desvalido na sala da casa.
- Que é que você quer, Zenildo? Tá querendo se juntar com seu primo? É certo que nóis vai sangrar o Ivaldo. Parente meu não apanha na cara.
- O senhor, seu Pernambucano, sabe que seu fio não tem razão. Nosso tio é presepero mas é um velho coitado. Precisava seu fio dar uma surra nele? Meu primo tomou as dores do mesmo jeito que vocês tão tomando, que ninguém gosta de ver um seu apanhando na rua.
- O jeito é alimpar com sangue.
- Mas nóis não sangremos seu fio, e foi ele quem começou a peleja.
Os homens vão chegando perto, tem revolver engatilhado, carabina apontada, clec-clec, Zenildo de costas pra eles, de frente pro velho.
- Você não está se achando muito valente seu cabra? Se crescendo no meio da sala de minha casa, aqui somos mais de dez e você é um?
Zenildo mira os olhos do velho com o olho de nem-sei-o-quê.
- Olhe seu Pernambucano, com todo o respeito, aqui nessa terra os de sua gente se contam aos dez e os nossos se contam aos mil. Se me matarem agora ou matarem meu primo não sobra um de sua raça pra contar história.
- Fio!
Chega em frente de Zenildo o filho que apanhou de Ivaldo, peixeira empunhada.
- Fio, aperte a mão de Zenildo! Sujeito homem como ele não é pra morrer sangrando em minha casa e você foi errado. Tá empatado.
Com o olho cheio de lágrimas que não deixou escorrer o filho do Pernambucano pegou a peixeira com raiva, enfiou com toda a força na tábua da mesa. Apertou a mão de Zenildo.
Briga ficou mesmo foi pra quem não sabe fazer a paz.
- Não me mate pelo amor de Deus, fica de graça para o senhor.
- Brigado, dessa vez passa.
Com a barriga farta foi beber no bar do Cigano, e esse povo sabe ser brabo quando mexem com um deles. Bebeu uma, duas, três branquinhas. Reapresentou a arma: Vou pagar mas é com isto! O Cigano pegou uma arma de vera e botou na testa dele.
- Você quer morrer agora ou mais tarde?
Dito dá uma risada mostra as gengivas carecas - estou brincando meu amigo, toma aqui seu pagamento, nóis semo amigo há tantos tempos, escapou bufando.
Na derradeira, chegou na barraca do filho do Pernambucano, pegou um chapéu, botou na cabeça e foi saindo como quem não queria nada. O cabra ficou azedo puxou ele pelo pescoço. Tomou o chapéu. Dito ainda disse uns desaforos que ninguém que testemunhou teve coragem de relatar. Parece que chamou a mãe do homem de cachorra. Sei que o homem comeu ele no sopapo.
Na hora da surra o primo Ivaldo ia passando tomou as dores de nosso tio. Podia não valer nada, mas quem quer ver o seu sangue apanhando na praça? Que está acontecendo aqui? Antes de ser respondido moeu o cabra no murro, foi surra que saiu suado, puxou Tio Dito pelos colarinhos, deixou ele em casa para modo de não criar mais confusão.
Antes do sol cair a cidade já estava cheia que Ivaldo era um homem morto. A família dos Pernambucos já tinha se armado para vingar a surra e a humilhação sofrida. Cabra não apanha na cara.
Antes da peixeira entrar em seu bucho Ivaldo se escondeu na roça. Depois se picou aqui pra casa e se acoitou até dia desses. Filhos pra criar... foi tomar as dores de Tio Dito! Mas o filho do Pernambucano estava errado também ao bater num coitado desses.
Todo mundo sabia que nossa raça estava jurada. Se não pegassem o primo Ivaldo ia começar a guerra dos Pernembucos com nossa gente, mas no meio dos nossos não tem mais feroz do que Zenildo.
Zenildo foi sozinho na casa do velho Pernambucano, tirou a cinta e deixou as armas no batente entrou sem nadinha. Não é um cabra mesmo?!
- Licença seu Pernambucano, a bença.
- Deus lhe abençoe.
- Eu vim tratar com o senhor porque seu fio jurou de matar meu primo.
Vão chegando os filhos todos do Pernambucano, armados: um com peixeira, outro com carabina, outro com uma cartucheira. Zenildo desvalido na sala da casa.
- Que é que você quer, Zenildo? Tá querendo se juntar com seu primo? É certo que nóis vai sangrar o Ivaldo. Parente meu não apanha na cara.
- O senhor, seu Pernambucano, sabe que seu fio não tem razão. Nosso tio é presepero mas é um velho coitado. Precisava seu fio dar uma surra nele? Meu primo tomou as dores do mesmo jeito que vocês tão tomando, que ninguém gosta de ver um seu apanhando na rua.
- O jeito é alimpar com sangue.
- Mas nóis não sangremos seu fio, e foi ele quem começou a peleja.
Os homens vão chegando perto, tem revolver engatilhado, carabina apontada, clec-clec, Zenildo de costas pra eles, de frente pro velho.
- Você não está se achando muito valente seu cabra? Se crescendo no meio da sala de minha casa, aqui somos mais de dez e você é um?
Zenildo mira os olhos do velho com o olho de nem-sei-o-quê.
- Olhe seu Pernambucano, com todo o respeito, aqui nessa terra os de sua gente se contam aos dez e os nossos se contam aos mil. Se me matarem agora ou matarem meu primo não sobra um de sua raça pra contar história.
- Fio!
Chega em frente de Zenildo o filho que apanhou de Ivaldo, peixeira empunhada.
- Fio, aperte a mão de Zenildo! Sujeito homem como ele não é pra morrer sangrando em minha casa e você foi errado. Tá empatado.
Com o olho cheio de lágrimas que não deixou escorrer o filho do Pernambucano pegou a peixeira com raiva, enfiou com toda a força na tábua da mesa. Apertou a mão de Zenildo.
Briga ficou mesmo foi pra quem não sabe fazer a paz.